Calcular corretamente seus honorários anestésicos é uma habilidade essencial que impacta diretamente sua receita profissional. Muitos anestesistas deixam de receber valores significativos simplesmente por não dominarem os cálculos e acréscimos previstos na CBHPM.
Neste guia completo e prático, você aprenderá passo a passo como calcular seus honorários em qualquer situação, desde os casos mais simples até os procedimentos complexos com múltiplos acréscimos. Ao final, você terá total domínio sobre o cálculo de seus honorários anestésicos.
Conteúdo
- 1 Por Que Calcular Corretamente É Tão Importante?
- 2 Entendendo a Fórmula Básica de Cálculo
- 3 Passo a Passo: Cálculo Básico Sem Acréscimos
- 4 Calculando Acréscimo por Tempo Adicional
- 5 Calculando Acréscimo por Idade do Paciente
- 6 Calculando Acréscimo por Estado Físico (ASA)
- 7 Calculando Acréscimo por Horário
- 8 Cálculos Complexos: Múltiplos Acréscimos Simultâneos
- 9 Casos Especiais: Situações Atípicas
- 10 Ferramentas Práticas para Facilitar os Cálculos
- 11 Documentação Adequada para Garantir o Pagamento
- 12 Como Contestar Glosas e Pagamentos Incorretos
- 13 Dicas de Ouro para Maximizar Seus Honorários
- 14 Cálculo de Honorários para Pacientes Particulares
- 15 Planejamento Financeiro com Base nos Cálculos
- 16 Erros Comuns que Custam Caro
- 17 Checklist de Cálculo de Honorários
- 18 Conclusão: Transforme Conhecimento em Resultados Financeiros
Por Que Calcular Corretamente É Tão Importante?
Antes de entrarmos nos cálculos práticos, é fundamental entender o impacto financeiro de dominar essa habilidade. Isso porque, quando o anestesista não conhece bem a tabela CBHPM, pode perder entre 20% e 40% da sua receita potencial ao longo do ano.
Na prática, essas perdas ocorrem principalmente por três motivos: não aplicar os acréscimos quando cabíveis, aceitar glosas indevidas sem contestação e não documentar adequadamente os procedimentos realizados. Por consequência, dominar o cálculo correto elimina esses problemas e garante uma remuneração justa e alinhada ao trabalho executado.
Além disso, quando você sabe exatamente quanto deve receber, torna-se muito mais fácil negociar com convênios, explicar valores a pacientes particulares e identificar rapidamente erros ou glosas injustas nos pagamentos. Dessa forma, o conhecimento técnico não apenas evita perdas financeiras, mas também fortalece sua autonomia profissional e amplia sua segurança na tomada de decisões.
Entendendo a Fórmula Básica de Cálculo
Todo cálculo de honorário anestésico parte de uma fórmula base simples que você precisa decorar:
Honorário Base = Porte Anestésico (em UCO) × Valor da UCO (em R$)
Essa é a base de tudo. Depois, sobre esse valor base, você aplicará os acréscimos quando necessário. Vamos entender cada elemento:
O Que É UCO?
UCO significa Unidade de Custo Operacional e é a unidade de medida utilizada pela CBHPM para precificar todos os procedimentos médicos. Em outras palavras, cada porte anestésico possui um valor fixo em UCO, enquanto o valor em reais correspondente a cada UCO pode variar de acordo com o convênio ou o atendimento particular.
Para ilustrar, o porte 5 sempre corresponde a 14 UCO. No entanto, se um convênio paga R$ 30,00 por UCO e outro paga R$ 40,00, o valor final dos honorários será diferente, mesmo sendo exatamente o mesmo procedimento..
Como Descobrir o Valor da UCO?
O valor da UCO que você receberá depende de:
Contratos com convênios: Cada operadora define quanto paga por UCO, geralmente informado no credenciamento.
Negociação particular: Para pacientes particulares, você define o valor da UCO baseado no mercado local e sua experiência.
Tabela de referência: A ANS estabelece uma tabela de referência, mas convênios frequentemente pagam percentuais abaixo dela.
Região geográfica: Valores de UCO variam entre capitais, interior e diferentes estados.
Para saber exatamente quanto cada convênio paga, consulte seus contratos de credenciamento ou entre em contato com o departamento médico da operadora.
Passo a Passo: Cálculo Básico Sem Acréscimos
Vamos começar com o cenário mais simples: um procedimento dentro do horário comercial, em paciente adulto saudável, com duração dentro do tempo padrão.
Exemplo Prático 1: Colecistectomia Videolaparoscópica
Situação: Cirurgia de vesícula por vídeo em paciente de 45 anos, ASA 1, realizada às 10h da manhã, com duração de 1h30min.
Passo 1 – Identifique o porte: Colecistectomia videolaparoscópica = Porte 4
Passo 2 – Verifique o valor em UCO: Porte 4 = 10 UCO
Passo 3 – Consulte o valor da UCO do convênio: Vamos supor que o convênio pague R$ 32,00 por UCO
Passo 4 – Aplique a fórmula: Honorário = 10 UCO × R$ 32,00 = R$ 320,00
Resultado final: Você deve receber R$ 320,00 por essa anestesia.
Exemplo Prático 2: Artroscopia de Joelho
Situação: Artroscopia diagnóstica de joelho em paciente de 52 anos, ASA 2, realizada às 14h, duração de 50 minutos.
Passo 1 – Identifique o porte: Artroscopia diagnóstica = Porte 3
Passo 2 – Verifique o valor em UCO: Porte 3 = 7 UCO
Passo 3 – Consulte o valor da UCO: Convênio paga R$ 28,00 por UCO
Passo 4 – Aplique a fórmula: Honorário = 7 UCO × R$ 28,00 = R$ 196,00
Resultado final: R$ 196,00
Calculando Acréscimo por Tempo Adicional
Quando uma cirurgia ultrapassa o tempo padrão previsto para aquele porte, você tem direito a acréscimos proporcionais. Esse é um dos acréscimos mais comuns e que muitos anestesistas esquecem de cobrar.
Regras de Tempo Adicional
Para portes 1 a 4: Acréscimo de 30% do valor do porte a cada hora adicional ou fração
Para portes 5 a 8: Acréscimo de 50% do valor do porte a cada hora adicional ou fração
Tempo padrão: Cada porte tem um tempo padrão. Quando excedido, inicia-se a contagem de tempo adicional.
Como Calcular o Tempo Adicional
A contagem começa a partir do momento que o procedimento excede o tempo padrão. Veja os tempos padrão de cada porte:
- Porte 1: Até 30 minutos
- Porte 2: Até 45 minutos
- Porte 3: Até 1 hora
- Porte 4: Até 1h30min
- Porte 5: Até 2 horas
- Porte 6: Até 2h30min
- Porte 7: Até 3 horas
- Porte 8: Até 3h30min
Exemplo Prático 3: Herniorrafia com Tempo Adicional
Situação: Herniorrafia incisional (porte 4) que durou 3 horas, quando o tempo padrão é 1h30min.
Cálculo base:
- Porte 4 = 10 UCO
- UCO = R$ 30,00
- Base = 10 × R$ 30,00 = R$ 300,00
Cálculo do tempo adicional:
- Tempo total: 3 horas
- Tempo padrão: 1h30min
- Tempo adicional: 1h30min
- Como é porte 4, acréscimo = 30% por hora
- 1h30min = 1,5 horas × 30% = 45% de acréscimo
Aplicando o acréscimo:
- Acréscimo = 10 UCO × 45% = 4,5 UCO
- Total = 10 UCO + 4,5 UCO = 14,5 UCO
- Valor final = 14,5 × R$ 30,00 = R$ 435,00
Resultado: Você recebe R$ 435,00 ao invés de R$ 300,00, um aumento de R$ 135,00 pelo tempo adicional.
Exemplo Prático 4: Cirurgia de Grande Porte com Tempo Estendido
Situação: Gastrectomia (porte 6) que durou 5 horas, sendo o tempo padrão 2h30min.
Cálculo base:
- Porte 6 = 18 UCO
- UCO = R$ 35,00
- Base = 18 × R$ 35,00 = R$ 630,00
Cálculo do tempo adicional:
- Tempo total: 5 horas
- Tempo padrão: 2h30min
- Tempo adicional: 2h30min
- Como é porte 6, acréscimo = 50% por hora
- 2,5 horas × 50% = 125% de acréscimo
Aplicando o acréscimo:
- Acréscimo = 18 UCO × 125% = 22,5 UCO
- Total = 18 UCO + 22,5 UCO = 40,5 UCO
- Valor final = 40,5 × R$ 35,00 = R$ 1.417,50
Resultado: O tempo adicional quase dobrou seu honorário, de R$ 630,00 para R$ 1.417,50.
Calculando Acréscimo por Idade do Paciente
Pacientes pediátricos e idosos apresentam maior risco anestésico e requerem cuidados específicos, justificando acréscimos nos honorários.
Tabela de Acréscimos por Idade
Menor de 2 anos: Acréscimo de 50% Entre 2 e 5 anos: Acréscimo de 30% Maior de 70 anos: Acréscimo de 30%
Exemplo Prático 5: Anestesia Pediátrica
Situação: Herniorrafia inguinal (porte 3) em bebê de 8 meses.
Cálculo base:
- Porte 3 = 7 UCO
- UCO = R$ 32,00
- Base = 7 × R$ 32,00 = R$ 224,00
Aplicando acréscimo por idade:
- Menor de 2 anos = 50% de acréscimo
- Acréscimo = 7 UCO × 50% = 3,5 UCO
- Total = 7 UCO + 3,5 UCO = 10,5 UCO
- Valor final = 10,5 × R$ 32,00 = R$ 336,00
Resultado: O acréscimo por idade elevou o valor de R$ 224,00 para R$ 336,00.
Exemplo Prático 6: Anestesia em Idoso
Situação: Artroplastia de quadril (porte 6) em paciente de 78 anos.
Cálculo base:
- Porte 6 = 18 UCO
- UCO = R$ 38,00
- Base = 18 × R$ 38,00 = R$ 684,00
Aplicando acréscimo por idade:
- Maior de 70 anos = 30% de acréscimo
- Acréscimo = 18 UCO × 30% = 5,4 UCO
- Total = 18 UCO + 5,4 UCO = 23,4 UCO
- Valor final = 23,4 × R$ 38,00 = R$ 889,20
Resultado: Acréscimo de R$ 205,20 pela idade do paciente.
Calculando Acréscimo por Estado Físico (ASA)
A classificação ASA (American Society of Anesthesiologists) avalia o risco anestésico do paciente. Quanto maior o risco, maior o acréscimo permitido.
Classificação ASA e Acréscimos
ASA 1: Paciente saudável – Sem acréscimo ASA 2: Doença sistêmica leve – Sem acréscimo ASA 3: Doença sistêmica grave – Acréscimo de 30% ASA 4: Doença sistêmica grave com risco de vida – Acréscimo de 50% ASA 5: Paciente moribundo – Acréscimo de 80%
Exemplo Prático 7: Paciente ASA 3
Situação: Colectomia (porte 6) em paciente de 65 anos com diabetes descompensado e hipertensão grave (ASA 3).
Cálculo base:
- Porte 6 = 18 UCO
- UCO = R$ 36,00
- Base = 18 × R$ 36,00 = R$ 648,00
Aplicando acréscimo ASA:
- ASA 3 = 30% de acréscimo
- Acréscimo = 18 UCO × 30% = 5,4 UCO
- Total = 18 UCO + 5,4 UCO = 23,4 UCO
- Valor final = 23,4 × R$ 36,00 = R$ 842,40
Resultado: Acréscimo de R$ 194,40 pelo risco aumentado.
Exemplo Prático 8: Emergência ASA 4
Situação: Laparotomia exploradora de urgência (porte 6) em paciente com choque séptico e insuficiência renal aguda (ASA 4).
Cálculo base:
- Porte 6 = 18 UCO
- UCO = R$ 36,00
- Base = 18 × R$ 36,00 = R$ 648,00
Aplicando acréscimo ASA:
- ASA 4 = 50% de acréscimo
- Acréscimo = 18 UCO × 50% = 9 UCO
- Total = 18 UCO + 9 UCO = 27 UCO
- Valor final = 27 × R$ 36,00 = R$ 972,00
Resultado: Acréscimo de R$ 324,00 pelo alto risco.
Calculando Acréscimo por Horário
Procedimentos realizados fora do horário comercial normal justificam acréscimos significativos pela disponibilidade e inconveniência do profissional.
Tabela de Acréscimos por Período
Período noturno (19h às 7h): Acréscimo de 50% Sábado após 12h: Acréscimo de 30% Domingos e feriados: Acréscimo de 100% Sobreaviso acionado: Valores conforme negociação específica
Exemplo Prático 9: Cirurgia Noturna
Situação: Apendicectomia de urgência (porte 4) às 22h.
Cálculo base:
- Porte 4 = 10 UCO
- UCO = R$ 32,00
- Base = 10 × R$ 32,00 = R$ 320,00
Aplicando acréscimo noturno:
- Horário noturno = 50% de acréscimo
- Acréscimo = 10 UCO × 50% = 5 UCO
- Total = 10 UCO + 5 UCO = 15 UCO
- Valor final = 15 × R$ 32,00 = R$ 480,00
Resultado: R$ 160,00 a mais pelo horário noturno.
Exemplo Prático 10: Cirurgia em Domingo
Situação: Cesárea de urgência (porte 4) às 15h de domingo.
Cálculo base:
- Porte 4 = 10 UCO
- UCO = R$ 30,00
- Base = 10 × R$ 30,00 = R$ 300,00
Aplicando acréscimo de domingo:
- Domingo = 100% de acréscimo
- Acréscimo = 10 UCO × 100% = 10 UCO
- Total = 10 UCO + 10 UCO = 20 UCO
- Valor final = 20 × R$ 30,00 = R$ 600,00
Resultado: O valor dobra em domingos e feriados.
Cálculos Complexos: Múltiplos Acréscimos Simultâneos
Na prática, é comum que vários acréscimos sejam aplicáveis ao mesmo tempo. Veja como calcular esses casos complexos.
Regra Fundamental: Acréscimos São Cumulativos
Quando múltiplos acréscimos se aplicam, você soma todos os percentuais antes de calcular o valor final. Eles não são aplicados um sobre o outro, mas sim todos sobre o valor base.
Exemplo Prático 11: Caso Complexo Completo
Situação: Cirurgia de fratura de fêmur (porte 5) em criança de 3 anos, paciente ASA 3 por cardiopatia congênita, realizada às 21h de sábado, com duração de 4 horas (tempo padrão: 2 horas).
Identificando todos os acréscimos:
- Tempo adicional: 2 horas × 50% = 100%
- Idade (3 anos): 30%
- ASA 3: 30%
- Horário (noturno em sábado): 50% + 30% = 80%
Cálculo base:
- Porte 5 = 14 UCO
- UCO = R$ 35,00
- Base = 14 × R$ 35,00 = R$ 490,00
Somando todos os acréscimos:
- Total de acréscimos = 100% + 30% + 30% + 80% = 240%
Aplicando os acréscimos:
- Acréscimo total = 14 UCO × 240% = 33,6 UCO
- Total = 14 UCO + 33,6 UCO = 47,6 UCO
- Valor final = 47,6 × R$ 35,00 = R$ 1.666,00
Resultado: O procedimento que valeria R$ 490,00 no horário comercial, em adulto saudável e com duração normal, rende R$ 1.666,00 com todos os acréscimos aplicados corretamente. Isso representa um aumento de 240% sobre o valor base.
Exemplo Prático 12: Emergência Complexa
Situação: Toracotomia de urgência (porte 7) em idoso de 82 anos, ASA 4 por insuficiência cardíaca grave, realizada às 3h da madrugada de domingo, duração de 5 horas (tempo padrão: 3 horas).
Identificando todos os acréscimos:
- Tempo adicional: 2 horas × 50% = 100%
- Idade (82 anos): 30%
- ASA 4: 50%
- Horário (madrugada de domingo): 100%
Cálculo base:
- Porte 7 = 23 UCO
- UCO = R$ 40,00
- Base = 23 × R$ 40,00 = R$ 920,00
Somando todos os acréscimos:
- Total de acréscimos = 100% + 30% + 50% + 100% = 280%
Aplicando os acréscimos:
- Acréscimo total = 23 UCO × 280% = 64,4 UCO
- Total = 23 UCO + 64,4 UCO = 87,4 UCO
- Valor final = 87,4 × R$ 40,00 = R$ 3.496,00
Resultado: Esse procedimento extremamente complexo e de alto risco rende R$ 3.496,00, refletindo adequadamente a dificuldade, risco e sacrifício pessoal envolvidos.
Casos Especiais: Situações Atípicas
Existem algumas situações especiais que merecem atenção particular no cálculo de honorários.
Múltiplos Procedimentos na Mesma Cirurgia
Quando dois ou mais procedimentos cirúrgicos são realizados no mesmo ato anestésico, algumas regras se aplicam:
Regra geral: Cobra-se o procedimento de maior porte integralmente e aplica-se redução nos demais.
Percentuais comuns:
- 1º procedimento (maior porte): 100%
- 2º procedimento: 70%
- 3º procedimento em diante: 50%
Atenção: Alguns convênios têm regras próprias, consulte sempre o contrato.
Exemplo Prático 13: Procedimentos Múltiplos
Situação: Colecistectomia (porte 4) + Herniorrafia umbilical (porte 3) no mesmo tempo cirúrgico.
Cálculo:
- Procedimento principal: Porte 4 = 10 UCO × 100% = 10 UCO
- Procedimento adicional: Porte 3 = 7 UCO × 70% = 4,9 UCO
- Total = 10 + 4,9 = 14,9 UCO
- Se UCO = R$ 30,00: 14,9 × R$ 30,00 = R$ 447,00
Anestesia em Gestantes
Gestantes não recebem acréscimo automático por idade, mas podem ter acréscimo por ASA se houver complicações da gravidez que aumentem o risco anestésico.
Exemplos de situações com acréscimo:
- Pré-eclâmpsia grave: ASA 3
- Eclâmpsia: ASA 4
- Placenta prévia com sangramento: ASA 3 ou 4
Reanimação e Intercorrências Graves
Quando há necessidade de reanimação ou manejo de intercorrência grave durante o procedimento, isso pode justificar cobrança adicional:
Código específico: 10101039 – Reanimação em anestesia (porte variável conforme gravidade)
Este código pode ser cobrado adicionalmente ao procedimento principal quando há parada cardíaca, broncoespasmo grave, choque anafilático ou outras emergências que requeiram intervenção intensiva.
Ferramentas Práticas para Facilitar os Cálculos
Embora seja fundamental entender como fazer os cálculos manualmente, ferramentas digitais podem agilizar muito seu dia a dia.
Planilha de Cálculo Básica
Você pode criar uma planilha simples no Excel ou Google Sheets com:
Coluna A: Nome do procedimento Coluna B: Porte Coluna C: UCO do porte Coluna D: Valor da UCO em R$ Coluna E: Cálculo base (C × D) Colunas F a I: Percentual de cada tipo de acréscimo Coluna J: Valor final com acréscimos
Aplicativos e Calculadoras Online
Existem diversas ferramentas que automatizam o cálculo:
Aplicativos móveis: Permitem consulta rápida entre um procedimento e outro Sistemas web: Calculadoras que você acessa pelo navegador Softwares de gestão: Programas completos que integram agenda, prontuário e cálculo de honorários
Ferramentas como o Rol ANS oferecem consulta integrada de códigos CBHPM e cálculo automatizado de honorários, economizando tempo precioso no seu dia a dia.
Tabela de Referência Rápida
Mantenha sempre à mão uma tabela resumida com:
- Portes mais comuns da sua rotina
- Valor em UCO de cada porte
- Valores da UCO dos principais convênios
- Percentuais de acréscimos mais utilizados
Isso permite cálculos mentais rápidos para dar orçamentos imediatos quando necessário.
Documentação Adequada para Garantir o Pagamento
Calcular corretamente é apenas metade do trabalho. Documentar adequadamente garante que você receberá o que calculou.
Elementos Essenciais na Ficha Anestésica
Horários precisos: Anote exatamente quando iniciou e terminou a anestesia, não arredonde Classificação ASA: Documente e justifique a classificação com as comorbidades do paciente Intercorrências: Registre qualquer evento que justifique acréscimos ou códigos adicionais Técnica utilizada: Descreva detalhadamente a técnica anestésica empregada
Preenchimento da Guia TISS
A Guia de Serviço Profissional deve conter:
Código do procedimento: Utilize o código CBHPM exato Porte correto: Não confunda porte cirúrgico com anestésico Tabela de acréscimos: Campo específico para documentar cada acréscimo aplicado Observações: Use o campo de observações para justificativas adicionais se necessário
Justificativas por Escrito
Para acréscimos que podem gerar questionamento, prepare justificativas padronizadas:
Tempo adicional: “Procedimento iniciado às [hora] e finalizado às [hora], totalizando [X] horas, excedendo em [Y] horas o tempo padrão previsto para este porte.”
ASA elevado: “Paciente classificado como ASA [X] devido a [lista de comorbidades], configurando risco anestésico aumentado conforme classificação da Sociedade Brasileira de Anestesiologia.”
Intercorrências: “Durante o procedimento houve [descrever intercorrência], exigindo [medidas tomadas], o que justifica a cobrança adicional de [código/acréscimo].”
Como Contestar Glosas e Pagamentos Incorretos
Mesmo com cálculo e documentação corretos, glosas podem ocorrer. Saiba como contestar efetivamente.
Tipos Comuns de Glosas
Glosa de porte: Convênio alega que o porte cobrado é superior ao previsto Glosa de acréscimo: Recusa em pagar tempo adicional ou outros acréscimos Glosa por falta de documentação: Alegação de que não há justificativa suficiente Glosa técnica: Questionamento sobre a necessidade do procedimento
Passo a Passo para Recurso de Glosa
Passo 1 – Reúna toda a documentação: Ficha anestésica completa, guia TISS, prontuário médico
Passo 2 – Compare com a tabela CBHPM: Demonstre que o código e porte utilizados estão corretos
Passo 3 – Elabore recurso por escrito: Use linguagem técnica, cite a CBHPM e normativas da ANS
Passo 4 – Estabeleça prazo: Dê prazo específico para resposta (geralmente 10 a 15 dias úteis)
Passo 5 – Protocolize formalmente: Guarde comprovante de entrega/envio do recurso
Passo 6 – Escale se necessário: Se não houver resposta, acione ouvidoria da operadora ou ANS
Modelo de Recurso de Glosa
“À [Nome da Operadora],
Ref: Recurso de Glosa – Guia nº [número] – Paciente [nome]
Venho por meio desta contestar a glosa aplicada ao procedimento anestésico realizado em [data], pelos seguintes motivos:
- O porte anestésico utilizado (porte [X]) está em conformidade com o código CBHPM [número] para o procedimento [nome do procedimento], conforme tabela CBHPM [edição].
- Os acréscimos aplicados são justificados por [detalhar motivos com base na documentação].
- Anexo documentação comprobatória: ficha anestésica completa, com registro de horários, intercorrências e justificativas técnicas.
Solicito a revisão desta glosa e o pagamento integral do valor de R$ [valor], conforme cálculo baseado na CBHPM vigente.
Aguardo retorno em até 15 dias úteis.
Atenciosamente, [Seu nome e CRM]”
Dicas de Ouro para Maximizar Seus Honorários
Além do cálculo técnico correto, algumas estratégias podem otimizar sua receita:
Registre Tudo em Tempo Real
Não confie na memória. Anote horários e intercorrências imediatamente. Isso evita perder acréscimos por não lembrar exatamente quando iniciou ou terminou o procedimento.
Conheça as Particularidades de Cada Convênio
Cada operadora tem suas regras específicas. Alguns pagam determinados acréscimos automaticamente, outros exigem documentação extra. Mantenha um caderno ou arquivo digital com as peculiaridades de cada convênio.
Negocie Periodicamente
Não aceite passivamente os valores praticados. Anualmente, ou sempre que aumentar significativamente seu volume com determinado convênio, solicite reunião para renegociar valores.
Invista em Capacitação
Participe de cursos sobre gestão financeira para médicos e codificação CBHPM oferecidos pela SBA. O investimento se paga rapidamente com a redução de perdas.
Utilize Tecnologia
Automatize o máximo possível. Sistemas que calculam automaticamente e já geram as guias preenchidas economizam horas de trabalho administrativo por mês.
Estabeleça Política Clara para Particulares
Tenha uma tabela definida para pacientes particulares. Geralmente, pratica-se entre 120% e 200% da CBHPM de referência da ANS, dependendo de sua especialização e região.
Audite Seus Próprios Recebimentos
Mensalmente, revise uma amostra de pagamentos recebidos. Verifique se os valores estão de acordo com o calculado. Muitos erros passam despercebidos por falta dessa verificação.
Cálculo de Honorários para Pacientes Particulares
Atendimentos particulares exigem abordagem diferente, pois você tem liberdade para definir seus valores.
Como Precificar Procedimentos Particulares
Método 1 – Percentual sobre CBHPM ANS: Utilize a tabela CBHPM de referência da ANS e aplique um percentual acima (normalmente 150% a 200%).
Método 2 – Valor fixo por UCO: Defina um valor de UCO particular (geralmente entre R$ 45 e R$ 70, dependendo da região e especialização).
Método 3 – Pesquisa de mercado: Consulte colegas da região para alinhar valores competitivos.
Exemplo de Tabela Particular
Se a CBHPM ANS estabelece UCO de R$ 30,00 e você decide praticar 180%:
- Seu valor de UCO particular: R$ 54,00
- Porte 4: 10 UCO × R$ 54,00 = R$ 540,00
- Porte 5: 14 UCO × R$ 54,00 = R$ 756,00
- Porte 6: 18 UCO × R$ 54,00 = R$ 972,00
Como Apresentar o Valor ao Paciente
Seja transparente e educativo:
“Seu procedimento tem porte anestésico 5 na classificação CBHPM, que é a tabela oficial de honorários médicos no Brasil. Isso corresponde a 14 UCOs. Meu valor particular é de R$ [X] por UCO, totalizando R$ [Y] para este procedimento. Este valor cobre toda a avaliação pré-anestésica, o ato anestésico e o acompanhamento pós-operatório imediato.”
Planejamento Financeiro com Base nos Cálculos
Dominar os cálculos permite planejamento financeiro preciso e estratégico.
Projeção de Receita Mensal
Analise seu histórico dos últimos 3 a 6 meses:
Quantos procedimentos por mês: Separe por porte Valor médio recebido por porte: Considere acréscimos típicos Mix de convênios vs particulares: Percentual de cada origem
Com esses dados, você pode projetar com precisão sua receita dos próximos meses.
Identificação de Oportunidades
Porte mais frequente: Se você faz muitos procedimentos de porte 4, foque em negociar melhor esse porte específico Convênio com mais glosas: Avalie se vale a pena manter ou reduzir atendimentos desse convênio Horários mais lucrativos: Considere se plantões noturnos e fins de semana compensam financeiramente
Metas de Crescimento
Estabeleça metas realistas:
- Aumentar em X% o percentual de atendimentos particulares
- Reduzir taxa de glosas de Y% para Z%
- Renegociar valores com convênios que representam maior volume
- Aumentar ticket médio focando em procedimentos de maior complexidade
Erros Comuns que Custam Caro
Evite esses erros frequentes que fazem anestesistas perderem dinheiro:
Erro 1: Não Cobrar Tempo Adicional
Muitos anestesistas simplesmente não anotam ou não cobram quando o procedimento se estende. Em um mês, isso pode representar perda de milhares de reais.
Erro 2: Não Documentar Classificação ASA
Paciente com múltiplas comorbidades mas sem documentação adequada da classificação ASA perde o acréscimo justificado.
Erro 3: Aceitar Glosas sem Contestar
Estatísticas mostram que 60% a 70% dos recursos de glosa são bem-sucedidos quando bem fundamentados. Não contestar é deixar dinheiro na mesa.
Erro 4: Usar Edição Errada da CBHPM
Alguns anestesistas utilizam edições antigas da CBHPM, perdendo atualizações de portes que poderiam beneficiá-los.
Erro 5: Arredondar Horários
Arredondar “para facilitar” geralmente prejudica você. Se iniciou às 14h47min, registre 14h47min, não 15h.
Erro 6: Não Conhecer as Regras do Convênio
Cada convênio tem particularidades. Desconhecer resulta em cobranças incorretas e glosas.
Erro 7: Deixar para Preencher Guias Depois
Quanto mais tempo passa, menos você lembra dos detalhes que justificam acréscimos. Preencha imediatamente após o procedimento.
Checklist de Cálculo de Honorários
Use este checklist para garantir que nenhum passo importante seja esquecido:
Antes do procedimento
- □ Identifiquei o código CBHPM correto?
- □ Confirmei o porte anestésico correspondente?
- □ Avaliei e documentei a classificação ASA do paciente?
- □ Verifiquei o valor da UCO praticado pelo convênio ou atendimento particular?
Durante o procedimento
- □ Anotei o horário exato de início da anestesia?
- □ Registrei todas as intercorrências relevantes?
- □ Anotei o horário exato de término?
Após o procedimento
- □ Calculei o tempo total e o tempo adicional, se houver?
- □ Verifiquei a necessidade de acréscimo por idade?
- □ Apliquei o acréscimo correspondente ao ASA, quando aplicável?
- □ Considerei o acréscimo por horário (noturno, fim de semana ou feriado)?
- □ Somei todos os acréscimos corretamente ao valor base?
- □ Preenchi a guia TISS com todas as informações necessárias?
- □ Anexei a documentação de suporte adequada, caso seja exigida?
Controle de recebimento
- □ Registrei o valor calculado esperado para conferência?
- □ Verifiquei se o valor pago corresponde ao valor devido?
- □ Identifiquei eventuais glosas?
- □ Preparei recurso quando necessário?
Conclusão: Transforme Conhecimento em Resultados Financeiros
Calcular corretamente seus honorários anestésicos não é apenas uma questão técnica; na verdade, é um fator essencial de valorização profissional e de sustentabilidade financeira da sua carreira.
Quando o anestesista domina por completo o cálculo de honorários pela CBHPM, ele não apenas recebe de forma mais justa, como também conquista maior respeito dos convênios, melhora sua capacidade de negociação e mantém uma relação mais transparente com pacientes particulares.
Além disso, aplicar esse conhecimento de forma consistente no dia a dia pode representar um aumento de 20% a 40% na receita anual — sem trabalhar mais horas, mas simplesmente recebendo corretamente pelo serviço já realizado.
Por isso, lembre-se: cada acréscimo não cobrado, cada glosa não contestada e cada hora adicional não documentada representa dinheiro que você deixa de receber. Com as ferramentas e orientações apresentadas neste guia, você está preparado para garantir que seu trabalho seja remunerado de maneira justa e integral.
Assim, comece hoje mesmo a aplicar esses cálculos, registre seus procedimentos com precisão e veja seus honorários refletirem verdadeiramente a complexidade e o valor do seu trabalho como anestesista.
Última atualização: Novembro 2025 Artigo escrito por especialistas em gestão médica e faturamento hospitalar
